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Dislexia e os Superpoderes dos Disléxicos.

  • Doutora Renata Jardini - (Extraído e adaptado do
  • 9 de jun. de 2017
  • 4 min de leitura

Sintomas e fatores fortes do disléxico – Saúde disléxica


A dislexia é comumente descrita enfocando-se os fatores fracos dos disléxicos, suas falhas ou sequelas, que são inúmeras quando comparadas às performances dos indivíduos ditos normais.


O próprio educador e os pais podem relatar, com minúcias, todos os erros e equívocos que estes indivíduos cometem, sendo esta questão a grande problemática. Reparo, baseada em experiência clínica e em contato com inúmeros disléxicos com os quais convivo diariamente, em minha vida e rotina doméstica que a insistência em se enfocar o lado "doente" dos disléxicos é ver-se apenas uma parte de seu todo, que envolve um enorme potencial e brilhantismo quando reabilitados, além de suas inerentes fraquezas e equívocos.


Talvez pelo fato dos disléxicos lidarem com os dois hemisférios cerebrais, direito e esquerdo, simultaneamente, muitas vezes sem predomínio de dominância cerebral, tenham potencialmente, mais facilidades para o ambidestrismo e a realização de inúmeras atividades ao mesmo tempo.

Quando reabilitados, conscientes de seu potencial e ao mesmo tempo de suas dificuldades, controlam a dispersão, desenvolvem a atenção e a disciplina, que são fatores fundamentais para o seu sucesso e alcançam êxito nas habilidades de linguagem. Costumo dizer que os maiores inimigos de um disléxico são a desorganização e a indisciplina, que devem, a toda prova, combater, mas por recursos pessoais, autoconscientes, não por arbitrariedade e imposição de seus pais e educadores.

Acredito que a ênfase deveria ser dada à "saúde" do disléxico, ou seja, suas potencialidades, que são, sem qualquer sombra de dúvida, ilimitadas, quando comparadas aos "normais". Este enfoque, positivista do caso, tem sua importância para pais, professores e para os disléxicos em geral, pois lhes abre caminho para o sucesso, em lugar de fechar-lhes as portas. Isto é facilmente observável quando reabilitamos adultos disléxicos, que muitas vezes chegam aos consultórios com queixas indefinidas, que abrangem insatisfações pessoais com performances linguísticas abaixo de seu real potencial, além de problemas com a autoestima e colocações profissionais subestimadas em relação às suas competências.

Muito tenho a agradecer à Mabel Condemarin, a qual tive a oportunidade de conhecer e crescer com seus ensinamentos sobre as 900 escolas, projeto realizado no Chile, que recuperou o nível de escolaridade de suas crianças e tornou-as leitores prazerosos (GUTTMAN, 1993). Condemarin em seus inúmeros livros sobre o tema (1968, 1985, 1986, 1997, 2004) e o Prof. Smythe (2004) têm uma visão progressista da patologia que muito tem norteado minha prática fonoaudiológica e conduta pessoal. Nesses anos de experiência clínica, convivendo com um filho e vários amigos pessoais disléxicos, além do marido eleito, um disléxico incorrigível, pude atestar muitos fatores fortes que essas pessoas apresentam, que as faz distinguir positivamente, sobressaindo-se das demais. Aliás, destaco com veemência o grande feito em abertura de consciência, descomplicação, humor, ética e generosidade que têm produzido em minha própria pessoa a partir do convívio com esses seres.

Assim sendo, destaco alguns destes fatores, como:

  • Criatividade acima do esperado;

  • Bom humor;

  • Fácil socialização, sendo o "amigo de todos";

  • Método das Boquinhas

  • Facilidade em quebrar paradigmas;

  • Genialidade;

  • Inventividade;

  • Aptidões intuitivas e artísticas;

  • Habilidade em lidar com simultaneidade de estímulos;

  • Facilidade em desenvolver a inteligência emocional;

  • Maior facilidade com o cálculo matemático (há exceções).


A literatura popular está cheia de exemplos de disléxicos que obtiveram a notoriedade, mas que eram considerados incapazes por muitos de seus professores, como: Einstein, Leonardo da Vinci, Thomas Alva Edison, Tom Cruise, George W. Bush, Fernanda Young e tantos outros.

Em meus cursos sobre distúrbios da leitura e escrita costumo ser grande entusiasta exemplificando as atitudes disléxicas, que caricaturam seus comportamentos, como:


• Seres que abusam de elementos multissensoriais para se expressar, muito além das palavras e léxico adequado, utilizado pela maioria das pessoas;

• Sua comunicação é inusitada, pessoal, particular e por incrível que pareça, universal;

• São altamente ruidosos, assobiam e cantarolam fora de contexto;

• São gestuais, representam fatos e ações utilizando-se mais de mímica do que de palavras que as definam;

• São extremamente visuais, expressando-se por imagens e desenhos muito criativos, embora nem sempre precisos;

• São gustativos, conhecedores de segredos culinários e combinações de sabores exóticos;

• São técnicos e eletrônicos, dominando maquininhas e criando circuitos e soluções robóticas alternativas para problemas rotineiros;

• São viscerais, usando de seu corpo e espaço muito além do permitido pelos tradicionais padrões socioculturais estabelecidos;

• São mágicos, não se enquadrando em limites previamente definidos e extrapolando tempo e espaço;

• São altamente sedutores, deliciosamente inadequados e irreverentes;

• São generosos, carinhosos e possuem inteligência emocional bastante desenvolvida;

• Inventam palavras, línguas, escritas e quebram estruturas gramaticais viciadas, engrossando nosso tão respeitável dicionário.

Aqui não saberia classificar se como negativo ou positivo sua enorme facilidade em manipular pessoas, em seduzi-las e ludibriá-las a seu bel prazer, para que façam suas obrigações, para que arquem com suas responsabilidades, para que assumam os seus deveres e se culpabilizem por seus erros. Digo isso porque vejo em minha prática clínica o enorme contingente de familiares e educadores que são envolvidos e enredados por suas artimanhas, que acabam sucumbidos por suas mazelas, choramingos e teatro, passando a se comportar como seus verdadeiros “escravos”.

É evidente que essas atitudes são por vezes inconscientes a ambos, escravo e algoz, mas que sem sombra de dúvida, alimentam a problemática, distanciando cada vez mais a intervenção e reabilitação eficazes. Há que se salientar que

comportamento envolvente não se parece com sadismo, nem objetiva maldades ou causa prejuízo a outrem. Ao contrário, pois na sua grande maioria são generosos e prestam serviço por vontade própria, sendo atenciosos e carinhosos.


Por isso vemos muitos deles em profissões que envolvam expressões e artes, visuais, música, cênicas, mecatrônicas, webdesign, e afins, e muito poucos em atividades que envolvam leitura e escrita, ou palavras escritas. No entanto, conheço pessoalmente, muitas histórias de sucesso, de fortes disléxicos bem-sucedidos em áreas de reabilitação e leitura e escrita, que vêm inovar esse universo agregando novas abordagens.


Por tudo que nos causam, costumo ainda dizer que odiá-los é bem fácil, porém temos a grande oportunidade de desconstruir nossas sábias e acertadas verdades, ouvindo e estando atentos a suas novas maneiras de aprender, pois pode haver muito mais verdades entre o certo e o errado, tão “cartesianamente” enraizado em nossas mentes estruturadas.


Daí amá-los, é só uma questão de tempo!



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